A Ética do Desejo na Psicanálise: Um Chamado à Responsabilidade Subjetiva
- Arthur Alexander
- 15 de jun.
- 2 min de leitura
Vivemos cercados por certezas. Regras, fórmulas de sucesso, padrões de comportamento e promessas de felicidade nos são oferecidos todos os dias — pelas redes sociais, pela medicina, pela publicidade, até mesmo por discursos religiosos ou pedagógicos. No entanto, por mais segurança que essas respostas aparentem oferecer, muitas vezes o sujeito continua em sofrimento, sentindo que algo escapa, que algo não se encaixa.
É aí que entra a psicanálise.
Diferente de outras práticas, a psicanálise não vem para normatizar ou consolar com verdades prontas. Seu compromisso está em escutar o que há de mais singular em cada sujeito. E, nesse percurso, ela questiona as certezas que nos sustentam — aquelas que dizem quem devemos ser, o que devemos querer, como devemos viver.
Ao desconstruir essas certezas, a psicanálise não nos deixa no vazio, mas nos aponta algo fundamental: o desejo. Não o desejo no sentido vulgar de vontade ou impulso, mas o desejo como aquilo que nos move de forma única, aquilo que muitas vezes desconhecemos em nós mesmos, mas que estrutura a forma como existimos no mundo.
E é justamente aí que surge uma ética.
A ética da psicanálise não é a de seguir regras externas, mas a de assumir a responsabilidade pelo próprio desejo. Isso significa reconhecer que, mesmo sem saber tudo sobre si, cada sujeito é responsável pelas escolhas que faz e pelas implicações de seu discurso. É uma ética que nos tira da posição de vítimas passivas do destino, da sociedade ou do outro, e nos coloca frente àquilo que nos constitui — nosso modo de gozar, de amar, de repetir.
Talvez seja isso que nos falte hoje: não mais promessas de sentido, mas a chance de suportar a pergunta que cada um carrega. A psicanálise, então, não aponta um caminho certo — ela escuta o desvio, acolhe o tropeço, sustenta o silêncio. E, nesse intervalo entre o que se diz e o que se cala, quem sabe algo do sujeito possa, enfim, emergir.
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