A análise não muda o mundo, mas muda a posição do sujeito diante dele
- Arthur Alexander
- há 5 minutos
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No âmbito da psicanálise, onde o sujeito se confronta com o enigma de seu desejo, a análise emerge não como um instrumento de transformação cósmica, mas como um deslocamento sutil na topologia do ser. "A análise não muda o mundo, mas muda a posição do sujeito diante dele." Eis aí uma proposição que ecoa o cerne lacaniano: o mundo, esse vasto campo do Real, permanece inalterado em sua bruteza opaca, resistente a qualquer ilusão do imaginário. O que se altera, no entanto, é a postura do sujeito barrado, esse sujeito barrado que, outrora capturado na rede do Outro, descobre-se descentrado.
Considere o sujeito neurótico, enredado no significante mestre, perseguindo o objeto a como se fosse o graal de uma completude perdida. A análise, em sua travessia pelo discurso do analista – esse Outro que não responde, mas reflete o vazio –, não intervém para reformar as estruturas simbólicas do mundo exterior: as leis, as instituições, o capital que circula como um desejo alheio. Não, ela não é uma revolução marxista disfarçada de divã; ela não derruba muros nem redistribui gozos. Em vez disso, opera uma metonímia essencial: o sujeito, que antes se posicionava como objeto do desejo do Outro, aprende a assumir sua divisão, a habitar o lugar da falta.
Pense no espelho, essa metáfora inaugural: no estádio do espelho, o sujeito se aliena na imagem unificada, projetando um eu ideal que mascara a fragmentação. A análise desvela essa alienação, mas não quebra o espelho do mundo – ele continua lá, refletindo as mesmas ilusões coletivas. O que muda é a distância: o sujeito não mais cola-se à imagem, ansiando por reconhecimento; ele se afasta, reconhecendo o furo no saber, o não-todo do gozo. Assim, diante do mundo – esse Outro traumático, cheio de buracos e excessos –, o sujeito reposiciona-se: de escravo do significante a agente de seu próprio desejo, ainda que esse desejo seja sempre o desejo do Outro, mas agora atravessado pela castração.
Eis o paradoxo lacaniano: a mudança não é externa, mas topológica, uma torção no laço borromeano do Real, Simbólico e Imaginário. O mundo persiste em sua indiferença, mas o sujeito, ao fim da análise, olha para ele não mais como vítima de um destino fantasmático, mas como quem sabe que o real é o impossível. A análise, portanto, não promete utopias; ela oferece apenas isso: uma nova angulação, onde o sujeito, enfim, pode dançar com sua própria sombra sem tropeçar no véu da fantasia.
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