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Na psicanálise lacaniana, o amor não é apenas um sentimento puro e transcendental, mas uma construção complexa que emerge do desejo, da idealização e, sobretudo, da falta. A frase “O amor, esse entrelaçamento de desejo e idealização, no qual projetamos no outro a esperança de curar nossas próprias feridas” reflete uma compreensão profunda do amor sob essa ótica.

Para Lacan, o desejo nunca é plenamente satisfeito, pois ele nasce da falta estrutural do sujeito. Desde a infância, o ser humano experimenta uma incompletude primordial, representada pela separação entre o bebê e a mãe – um momento crucial na formação do sujeito. Esse vazio nos acompanha ao longo da vida, levando-nos a buscar no outro algo que nos complete. No amor, essa busca se intensifica: idealizamos o ser amado, projetamos nele um poder curativo e acreditamos, muitas vezes de forma ilusória, que ele pode preencher aquilo que nos falta.

O amor lacaniano é, então, um equívoco necessário. Ele se estrutura na tentativa de encontrar no outro aquilo que nos falta, mas esse outro também é um sujeito desejante, também atravessado por sua própria falta. Assim, o amor se constrói como um jogo de espelhos, onde não amamos o outro em sua realidade plena, mas sim a imagem que dele criamos – uma imagem moldada por nossas idealizações e feridas inconscientes. Como Lacan afirma: "Amar é dar o que não se tem a alguém que não o quer".

Isso significa que o amor não é um simples ato de completude, mas sim um campo de trocas marcadas pela falta. Idealizamos o outro e o tornamos depositário de nossas esperanças de cura, mas essa expectativa pode ser frustrada quando percebemos que ninguém é capaz de suprir plenamente nossas lacunas internas.

Entender o amor sob essa perspectiva não significa negá-lo, mas sim reconhecê-lo como um fenômeno humano atravessado pelo desejo e pelo inconsciente. A psicanálise nos convida a amar não na ilusão da completude, mas na aceitação de que o outro é tão faltante quanto nós – e que o verdadeiro encontro amoroso acontece quando podemos amar sem a necessidade de nos salvar através do outro.

 
 
 
  • Foto do escritor: Arthur Alexander
    Arthur Alexander
  • 10 de nov. de 2024
  • 2 min de leitura

No campo da psicanálise lacaniana, o conceito de "Outro" ocupa um lugar fundamental, representando um enigma que jamais pode ser totalmente desvendado. Ao abordarmos o Outro em Lacan, nos referimos àquela instância que simboliza não apenas a alteridade, mas também a fonte do desejo do sujeito, algo que se projeta para além daquilo que podemos controlar ou compreender completamente.

Para Lacan, o Outro é muito mais do que uma simples representação do “outro” com quem nos relacionamos. Ele encarna o espaço simbólico que contém as normas, os ideais e os valores que moldam a subjetividade humana. Desde a infância, o indivíduo é confrontado com essa dimensão do Outro através da linguagem e das relações interpessoais, que dão forma à sua identidade, mas que também o posicionam em relação ao que ele nunca poderá compreender plenamente sobre si mesmo ou sobre o desejo alheio.

O desejo, por sua vez, é sempre um movimento em direção ao Outro, ou seja, aquilo que buscamos como fonte de preenchimento e completude. Lacan afirma que o desejo humano é, essencialmente, o desejo do Outro – desejamos ser amados, compreendidos e reconhecidos, mas segundo um ideal que reside fora de nós mesmos. Isso gera uma constante busca de reconhecimento que, paradoxalmente, nunca se satisfaz completamente. O Outro, enquanto fonte do desejo, carrega sempre algo que nos escapa, um "resto" inacessível ao sujeito.

Esse aspecto inacessível do Outro é algo que Lacan coloca como central. A linguagem, ainda que seja o meio pelo qual tentamos apreender e descrever o mundo, sempre falha em capturar o Outro em sua totalidade. Há algo no Outro que permanece indizível, uma parte que escapa ao discurso e à compreensão total. Essa dimensão inefável do Outro nos confronta com a ideia de que o ser humano é, por natureza, incompleto – sempre em falta e sempre buscando algo que está, de certa forma, fora do seu alcance.

 
 
 
  • Foto do escritor: Arthur Alexander
    Arthur Alexander
  • 26 de nov. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 10 de nov. de 2024

"Ah, as lembranças, esses fragmentos do passado que habitam nossa mente de maneira imprevisível e, por vezes, teimosa. Às vezes me pergunto se somos nós que as escolhemos ou se são elas que nos escolhem. Recordações, como velhos amigos que aparecem sem aviso, ou como sombras fugidias que se escondem nos recantos mais obscuros da nossa mente.

É intrigante como algumas lembranças se agarram a nós com força inabalável, como se fossem âncoras no oceano do tempo. Aquelas lembranças que nos fazem sorrir nos dias ensolarados e que nos consolam nos dias nublados. Os momentos especiais, repletos de emoção e cor, parecem persistir, como se tivessem uma vontade própria.

No entanto, há também aquelas lembranças que escorrem pelos nossos dedos, escapando como areia fina. São como sonhos fugazes que tentamos desesperadamente reter, mas que se dissipam na bruma da memória. As lembranças dolorosas, carregadas de tristeza ou arrependimento, muitas vezes se esquivam de nossos esforços para apagá-las, deixando cicatrizes emocionais que perduram.

O curioso é que, por mais que desejemos, não podemos forçar a permanência de uma lembrança. Elas têm vida própria, escolhendo se revelar ou se esconder no subconsciente. Às vezes, as lembranças boas parecem ser mais esquivas do que as ruins, como se estivessem tentando nos preservar da dor que poderia surgir ao relembrar experiências passadas.

É como se tivéssemos um arquivo interno de memórias, e o acesso a esse arquivo fosse controlado por um algoritmo misterioso. Algumas lembranças são trazidas à luz da consciência de forma espontânea, enquanto outras parecem esquecidas, enterradas sob camadas de experiências subsequentes. O que determina quais lembranças permanecerão vívidas e quais serão relegadas ao esquecimento?

Assim, seguimos pela vida, carregando conosco esse tesouro de lembranças, conscientes de que, de certa forma, somos reféns do imprevisível jogo da memória. Por mais que tentemos controlar o que lembramos ou esquecemos, no final, somos meros navegantes em um mar de lembranças que nem sempre obedece aos nossos comandos. E, no contraste entre as lembranças boas e ruins, encontramos a complexidade da nossa jornada, onde a alegria e a tristeza dançam juntas na tapeçaria das nossas experiências."

 
 
 
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© 2025 por Arthur Alexander Abrahão

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